Você não acha que já tirou muito de mim? Meus sonhos, meus planos, meus carinhos, meus beijos, meus pensamentos, eu. O que mais pode querer? Você tirou partido de mim e me deixou (des)feita em pedaços. Tem noção do quão difícil é se reconstruir, juntar cada parte outra vez, refazer o que o desamor desfez? Não, não responda. Você não sabe, é claro que não sabe. Aliás, nunca soube de nada em relação a mim, nem ao menos se interessou em saber. Você desnudou meus sentimentos e me despiu de todo e qualquer amor próprio. É difícil amar por dois, oferecer a alguém o que não tenho nem para mim mesma. Tem noção do quão ridícula me senti vestindo-me apenas de esperanças? Você abusou de tudo o que lhe dei e se recusou a me dar qualquer coisa que eu pedia. E eu só pedi um pouco de ti.
Não, eu não tirei nada de ti. Você que me deu seus sonhos, seus planos, seus carinhos, seus beijos, seus pensamentos, você — sem perguntar se eu queria. Eu só quero que você pare de me culpar por suas dores, por sua decepção, por seus desamores. Nunca quis te destruir, deixar-te em pedaços. Você me encaixou em seus vazios impreenchíveis e depois se sentiu incompleta quando eu te deixei. Como você pôde deixar alguém te destruir dessa forma? Não faça mais isso, moça. Você já é completa. Essa ideia de que alguém nos completa é besteira. Ou então todos vivemos pela metade? Os seus vazios fazem parte de você e nada nem ninguém pode preenchê-los, entenda, aceite, não chore. Precisamos desses espaços vazios em nós para não nos sufocarmos. Eu sempre soube muito de ti, tanto a ponto de te deixar. Vista-se, moça, e não tire mais a roupa — nem seu amor próprio — para qualquer um. Você teve de mim a reserva de amor que guardo para as outras pessoas. O resto é meu.
Dani Lusa