Serei eternamente grata àquele “se cuida”. Antes dele minhas prioridades começavam com um único pronome possessivo: seu. Seu horário, seu apartamento, seu prazer, seu bem-estar, seu problema, seu compromisso, seu. Fui tão sua, que esqueci como era ser minha.
Quando você partiu, levando todos os seus, eu cheguei. Meio assustada, meio perdida, sozinha, confusa. Aos poucos minha imagem se tornou mais nítida no espelho, meus olhos mais brilhantes e a vida insistiu em me fazer sorrir.
Colei um adesivo com sua última frase no teto sobre a minha cama. E desde então, cada detalhe da minha rotina é dedicado carinhosamente a mim. No meu gosto, do meu jeito. Esse lance de posse por mim dá um prazer danado, se tornou um vício. Seja um banho rápido ou a melhor banana split da cidade, estou sempre me fazendo feliz.
A melodia do despertador é suave, a temperatura do banho é a ideal. Café sem açúcar, por favor. Vou a pé para o trabalho, tênis com certeza. Flores, luz do sol e aroma de jasmim, afinal passo longas horas por lá. Um chocolatinho após o almoço? Por que não? Ah, como é lindo o pôr do sol do outono, vantagens de pedalar para o sul. Para a noite, um romance e uma taça de vinho tinto. E que delícia é o perfume do amaciante em meu travesseiro.
Antes de adormecer, dou aquela olhadinha para o teto e respiro fundo. Com um sorriso leve nos lábios, pronuncio como um mantra: se cuida.
Mallu Navarro