Conheço poucas coisas mais fortes do que um vulcão
Ou mais profundas
Ou mais sagradas
Ou quentes
Pelos seus afluentes
Escorre essa alma impetuosa
Afetuosa, chama vida
A chama grávida é fértil,
Ascende os faróis internos
e está sempre pronta para nascer
Aquela chamada essência
Aquela chamado de existência
para criar
Um convite ao baile do propósito
Um requisito, um apelo da encarnação
ao que é seu de direito,
seu lugar de êxito
Do início ao fim, um sinal
Um vulcão tem um quê de sagrado
É ele que liga a superfície à terra
do jeito exato,
Não é preciso ser ruidoso ou constante,
(pode ser prudente,
mesmo no seu queimar)
Porque quem convive de perto
Sabe exatamente quando se afastar
Humildemente se retira
Carinhosamente dá passagem,
Tranquilamente sai do caminho
Sabe apreciar o leite sair do ninho, o leito brilhante e
caudaloso escorrer no trilho
O seu deslizar lento e cuidadoso.
Pensado,
o sentimento que foi prensado a frio
sabe a hora de esquentar
Vivida, a emoção que foi exposta ao fogo em rio
sabe o hora de resfriar
Ele auto se regula
Como tudo que é sacro
Guarda em si a própria cura
A força do vulcão vem da sua coragem em se expelir
fogoso, mostrar sua matéria prima, substância irmã
das coisas puras, alquimia filha de Deus.
Ele não se enrijeceu
De tão especial,
lá dentro se mantém em sua forma original,
é liquido
e pode ser até mesmo erguido, tornando-se em
segredo
qualquer forma,
dependendo da fôrma,
do que está do lado de fora
De vez em quando faz sua aparição
Feito a face de Maria
Não é do seu feitio andar em romaria,
surgir em qualquer dia
É mais como um cometa,
ou aurora boreal em noite fria
Ele não dá esse gozo,
esse gosto pra todos
Nem é crucial que o faça
Os tortos hão de maldizê-lo,
Hão de mal interpretá-lo
Dirão que ele quer doer
Que ele quer arder
E até mesmo odiar
O chamarão de indecente
e até mesmo de vulgar
Mas essa labareda incandescente
Só quer passar em combustão
Não precisa de ninguém
Só de sua autoaprovação
Sua temperatura entrega
toda a vida que há (a)guardada ali,
toda fenda
toda ferida
E por mais que tentem expremê-la,
pisá-la,
massacrá-la,
diminuí-la,
ou fechá-la
e ainda que por um segundo ele acredite e se recolha
Sabe bem que essa bolha
há de estourar
porque a natureza do vulcão é borbulhar
Por vezes até enraivecer,
e disso há de se envaidescer, orgulhoso,
descer com sua potência,
nada é capaz de deter a sua essência
em erupção
E ainda que alguém o faça
que saiba que é a forca
porque o que tem de ser tem muita força
e eu conheço poucas coisas
mais fortes do que um vulcão
ou mais profundas
ou mais sagradas
ou quentes.
Andréa Góes