Pouco importa se pouco da vida eu vi
Por quantos países idiotas viajei e roupas comprei
Quanto gastei com os estudos ou se os terminei
Quantos livros empoeirados deixei na prateleira
Pouco importam as palavras sem sentido que lancei
As vezes que chorei escondido e se acumulei algum tempo perdido
As músicas que cantei e os porres que peguei
Pouco importa quanto dinheiro eu consegui ou guardei
Como amarrei os sapatos a vida inteira, pouco importa
Pouco importam quantas transas eu transei e bocas eu beijei
Quantos relógios falsos ficaram na gaveta guardados
Quantos filmes estrangeiros eu assisti para impressionar na conversa de bar
Pouco importa quanto eu tive ou se tudo perdi
Quantas cicatrizes marcaram meu rosto e meus dedos
Pouco importa se as contas estavam em dia e se apaguei as luzes
Pouco importa como vivi ou como parti
Quando as mãos se juntam frias sobre o peito, irmão
Só importam quantas pessoas eu conquistei
Quantas mãos em prece se uniram e quais corações choraram
Importam só as transas que amei e voltaram pra suspirar uma última vez
Quantos amigos ainda riem alto ao lembrar de mim, sem respeito algum pelos meus pés já gelados
Importam mesmo são as conversas que vão ecoar silêncio doloroso sempre que tocarem meu nome
Importa o tempo que gastei socorrendo um amigo, ou quantos vieram ao meu encontro quando precisei
Importa é quem, sem sair de casa, viajou comigo
Importa é se eu aprendi a ser eu mesmo a tempo
Importam quais corações toquei ao falar
Importa só por quem derramei lágrimas mudas ou gritei
Importa quem me escutou cantar e brindou comigo
Importa em quantas casas eu podia entrar sem bater
Em quantas almas vou continuar a viver
Em quantos olhos eu olhei e sangram enquanto parto
Importam quantos amores eu deixei, mesmo que sem saber
Quando batem-se as portas sobre os olhos fechados, irmão
Só importam quantos homens ficaram lá fora a me olhar e aplaudir.
Eden Picão