Após tantas tentativas frustradas, depois de tanto se afogar em mares rasos e entregar sua vida à pessoas que só queriam um passatempo, apresentando apenas ilusão, partindo e dilacerando qualquer sinal de sentimento que surgisse no caminho, o coração dela cansou.
Cansou de viver correndo riscos e se machucando. Cansou de tanta impulsividade e começou a suplicar por mudanças. Então ela juntou todas as desilusões, as promessas não cumpridas, as falsas amizades e as colocou em velhas malas, deixando do lado de fora da sua vida.
Ela começou a não aceitar gotículas de amor por aí. Perdeu a urgência e a dependência em outro alguém. Hoje ela olha pela fresta da janela e não sai abrindo as portas para qualquer um. No seu jardim, que antes era contornado por cerquinhas brancas como as dos filmes, hoje possui altos portões de ferro, com cacos de vidro no topo.
Não a entenda mal. Ela não desacreditou do amor e nem desistiu de encontrá-lo, ela só não é mais capaz de suportar brincadeiras com um coração que já sofreu tanto. Ela ainda é aquela garota que acredita em livros e filmes, mas não se surpreende mais com a leviandade das pessoas que acampam nos corações por aí e simplesmente saem, deixando tudo para trás.
Ouviu dizer por aí que se tornou fria e que seu coração mais se parece com um cubo de gelo. Mas não é verdade. Seu coração se encontra aquecido e com todas as portas e janelas abertas para aqueles que permaneceram de verdade, aqueles que, apesar dos erros e medos, permaneceram ali e se recusaram a sair.
Hoje, seu coração possui asas para chegar até aqueles que tornaram o amor recíproco, que adicionaram cores à veias tão cinzentas, que colocaram seus sabores em sua alma. Para aqueles que fizeram a curva quando todos os seus portões estavam fechados e, ainda assim, encontraram uma maneira de entrar e permanecer.
Ela sempre estará de coração aberto para aqueles que encontrarem a entrada e quiserem permanecer. Para que seu coração possa voar junto de outros corações que desejam ficar.
Grazielle Scharenberg