Algumas situações se repetem em nossa vida por pura teimosia. Às vezes, queremos remediar algo que já excedeu o limite. Na tentativa de consertar o que quebrou, refazemos laços desgastados. Ao tentarmos abrandar a fúria da saudade, repatriamos quem deveria permanecer longe. Assim, o ciclo de sofrimento se reinicia.
Há histórias que só acontecem uma única vez. Dentro delas, as pessoas estão intactas, maravilhosas, vestidas naquele mistério que um dia nos cativou e nos fez amá-las intensamente. É errado lembrar? Não. Mas é angustiante permanecer numa cena que é só memória. Que não vai voltar. Nós mudamos e as pessoas também. Cabe a nós, a lembrança, a saudade sem dor. A recordação sem o desejo de recuperar aquela pessoa tal como era e trazê-la para o convívio que não é mais o mesmo porque já estamos em outra frequência emocional, e mesmo que apenas um lembre e ainda ame, vai adiantar alguma coisa?
O erro é esperar do outro a mesma atitude, a mesma doação, o mesmo amor, a lembrança carinhosa de um sentimento que para ele não existe mais. E aí, surge o questionamento: “Então não era amor? “Sim, era. Foi. Amor também acaba. Acaba por uma sucessão de detalhes. Parar no tempo para replantar numa terra já conhecida, que deu os frutos que tinha que dar, é no mínimo um atentado contra o amor-próprio.
A gente precisa aprender que alguns términos são maneiras de devolver-nos a nós mesmos. Um relacionamento com diversas idas e vindas não significa que ainda exista amor, às vezes, é apenas carência. A teimosia nesses casos, só inaugura novas etapas de sofrimento, pois as reclamações não mudarão de endereço. Serão as mesmas. Repetições dos velhos hábitos, da falta de atenção e reciprocidade. Tudo que já existia antes. A “nova tentativa” será recheada de cobranças e expectativas — fato que só potencializará os erros conhecidos e abrirá uma possibilidade mais trágica: de duas pessoas que um dia se amaram tanto, começarem a se odiar, por pura insistência, por desejarem “salvar” uma relação que acabou há muito tempo.
Ester Chaves