Há uma cumplicidade amorosa no silêncio de um amigo. Não vai julgar o outro pelo volume das lágrimas nem dizer que é fraco por não saber se sustentar sozinho dentro de uma dor. Um amigo sempre possui inclinação para a escuta.
Mesmo que esteja quebrado por dentro, vai se reconstruir às pressas para oferecer assistência. Realiza blitz no passado enquanto procura a memória certa para acordar a esperança do outro. Costuma repatriar a alegria pela infância.
A infância é uma veneziana que abre o sorriso por dentro. Um saída emergencial, uma manobra que dribla o fluxo do sofrimento. Dentro de poucos instantes, estarão imersos nas fotografias antigas, a revirar as lembranças com a pá da saudade.
O tempo vira um túnel invisível entre a maturidade e a meninice. Um cordão de amarrar sonhos em nuvens. Uma árvore que desabrocha risadas. Um varal, onde se permite abandonar o que pesa e resgatar a ternura.
O tempo vira um retroprojetor colorido, onde é possível inventar matizes e enfeitar os dias opacos. Um amigo é sempre o olho mais lúcido quando a nossa miopia entristece a realidade. É um vidente com as cartas na manga. Um plantonista que reabilita sonhos enquanto a nossa fé cochila.
Ester Chaves