Não espero que você compreenda o que eu vou lhe dizer, é apenas uma necessidade idiota de falar sobre as coisas que se passam ― e habitam ― em mim. E eu sei que sequer lerá, porque não faz a menor diferença para você.
Não sei se percebeu, mas eu deixei esquecida num canto escuro qualquer toda aquela emoção que um dia eu senti ao escrever, ao falar sobre o amor. E não, não adiantaria explicar por que eu mudei ou falar sobre todos os motivos que me tornaram fria, você não seria capaz de entender ― porque se recusa. Ou, então, me olharia daquele jeito que olhou quando disse “foi a gota d’água” depois de mais uma de minhas crises e me diria que é tudo coisa da minha cabeça e que eu preciso superar todas essas mágoas, que, a propósito, foram causadas por você.
Como se fosse fácil apagar as memórias ruins que me perseguem e me vigiam em todos os instantes que eu não te vejo.
Sinto muito, mas o meu caos é difícil demais de organizar, não preciso que me cause mais confusões.
Eu já lhe escrevi tantas cartas de despedidas, mas você nem leu ― e eu ainda não fui embora.
Dani Lusa