Eu não sei me expressar muito bem, nunca fui bom com palavras. Bom mesmo eu sou em sufocá-las, em agir como se não me importasse, em olhar adiante fingindo não lembrar do que me ocorreu.
Não me orgulho disso, mas é a maneira que sei lidar com meus sentimentos. Entretanto, às vezes, a vida te pega pela mão e esfrega algumas verdades na cara.
Foi assim que em um truque ou planejamento do destino, novamente, me veio você. Com extrema naturalidade, me abraçou, tranquila, como se tivesse se ausentado por poucos minutos. Seu perfume invadiu meu corpo, seu sorriso fez eclodir milhares de imagens na minha cabeça e, naquele instante, eu entendi o vazio que me acompanhou nos últimos meses.
De tanto colecionar vocábulos, transbordei em prantos. Em meio à uma chuva de letras, só conseguia ler o seu nome, tal que, cá estou tentando uma sentença.
Eu nunca te esqueci, nem por um dia. Eu nunca deixei de te amar, nem por um instante. A cada noitada, a cada cantada, a cada amanhecer, lembrava você.
Muitas vezes me sentia errando, mentindo. Aquela vida não me satisfazia. Mas eu insistia, por pensar que deveria assumir as consequências de minhas escolhas. Mesmo incerto sobre elas, pagaria o preço.
Eu te deixei, me afastei, te machuquei com o fim e com todos os meus passos após. Você só me trouxe alegrias, valores, bons hábitos, infinitos carinhos e inesquecíveis momentos.
Com que cara eu poderia voltar atrás?
Como explicar para você o que me levou a partir, se eu não consigo nem para mim? Eu ainda não me conheço muito bem, mas já percebi que falo pelos cotovelos para tentar confundir a angústia que vive aqui dentro. Só que não.
Você também nunca se confundiu. Você nunca pediu que eu falasse e continua sem pedir, fazendo o cavalheiro gentil nessa nossa valsa. Talvez um dia você possa me perdoar, talvez já tenha perdoado, talvez não ache necessário eu pedir perdão, o que é de se esperar, vindo de ti.
É que é tão leve estar com você, flui tão fácil, que eu desconfiava da calmaria. Fantasiava que a qualquer hora uma tempestade chegaria.
No fim, quem fez tempestade (em copo d’água) fui eu, impulsivo e hostil. Hoje, eu entendo que a paz além de rara, é sutil.
Mallu Navarro.