Moça, vou contar-lhe uma história. Uma das grandes e, com certeza, a mais caótica possível. Eu adoraria começar essa história com: “Era uma vez…” porque você sabe, eu sei que gosta de histórias de princesas e seria um jeito lindo para iniciar essa. Porém, contos de fadas tem aqueles começos ensaiados, um meio totalmente dramático, um quase fim trágico e depois de muito blá-blá-blá, o grande e esperado “felizes para sempre”.
A nossa história não tem nada a ver com esse lenga-lenga proposital. Não teve nada de planejado. Nem o “oi” teve ensaio. Só foi. Saiu e pronto. Já era. Eu sempre fui daqueles que se importa muito com os outros, até mesmo sem conhecer e você parecia ser muito alheia a tudo. Eu já havia te notado, era impossível não notar uma pessoa como você, que já chega impondo presença e autoridade aonde quer que vá.
Confesso que a minha primeira impressão, foi que você era muito mais do que mostrava e aparentava, fico bastante feliz em ter tido razão pelo menos essa vez. Sabe quando a gente vê um filme e de cara já sabe o final? Então, contigo não foi assim. Logo na nossa primeira conversa a sós, notei a tua insegurança consigo, notei alguns dos teus medos, notei até aquela mania de completar tudo com risadas quando não sabia bem o que falar e nem se estava certa em falar aquilo. Notei também que a cada vez que percebia qualquer coisa referente a você, eu me encantava. Eu me encantava de todas as formas, seja fisicamente ou não.
Desde a nossa primeira briga, na primeira noite, na primeira conversa, eu soube o quão ferrado estava se continuasse. Como você na primeira briga, eu sou teimoso. Eu fiquei ali e a cada dia que se passava, a cada madrugada acordado só porque não sabia dizer ‘não’ quando você soltava aquele “fica mais” descontraído. A cada vez em que minha risada se perdeu no meio da tua e se tornou um único e viciante som. A cada verso meu inspirado no teu sorriso estranhamente perfeito.A cada vez em que meu coração pulava como louco todas as vezes em que você ligava no meio da noite só pra conversar algo à toa.
A cada briga idiota por coisas mais idiotas ainda e que, no fim, concluímos que éramos dois idiotas por brigar por tão pouco. Pois é, eu sabia… sabia que o que eu imaginava ser o pior, iria acontecer e de fato, aconteceu. Tudo começou do jeito mais neanderthal possível: com desejo. Esse foi o primeiro passo. Eu te desejava tanto que só de pensar em como seria gostoso beijar tua boca, meu corpo arrepiava e exalava prazer por todos os poros. Eu pensava a cada segundo do dia o quanto eu seria sortudo se pudesse te ter por uma noite inteira só pra mim e era insano te imaginar tanto assim.
O segundo e mais doloroso passo: o ciúme. Te ouvir falar de outros caras, do seu ex e até do menino bonito da igreja, me fez querer te fazer só e inteiramente minha, somente pra não ter que ouvir mais nada referente a outros homens e exigiria o teu coração só pra mim. Era estranho e eu sabia que deveria ser eu ali. Deveria ser eu em seus pensamentos. Deveria ser eu aquele que você queria e imaginava do lado. Mas, a sirene em alto e bom som berrou no meu ouvido: “Para, imbecil.”.
Eu sabia. Eu era metade de alguém quebrado e você era inteira demais para mim. Eu não pude me controlar. Juro, até tentei me afastar no início e provar a mim mesmo que tudo aquilo era só desejo e eu poderia facilmente fugir e fingir que nada havia acontecido. Como sempre, eu estava errado. Era mais do que só desejo e egoísmo. Era muito mais.
O terceiro passo: a negação. Eu neguei com todas as forças que aquele olhar bobo que todos notavam e ,principalmente, aquele sorriso ao te ver chegar, era somente amizade. Linda e pura. Neguei até para o meu reflexo no espelho que, de fato, eu havia me perdido na confusão dela e estava mais do que só desejando.
O passo mais idiota de todos: a declaração. Você deve estar cansada de saber que eu sou uma porta quando se trata de falar o que eu sinto. Tenho uma lista enorme de vezes e tentativas de te falar que estava te amando, mas lenta do jeito que você é, todas as tentativas deram errado. Em um dia de total insanidade, perdi a paciência que nunca tive e falei por minutos que estava gostando de alguém. Quando você disse que também estava, porra, meu coração parou. Puta que pariu, eu tinha certeza que não era eu. Não podia ser. Não tinha lógica, você tinha tantas outras opções melhores…
Não podia ser eu e até tinha desistido de desabafar o quanto te amava. Você insistiu tanto em saber quem era, que cheguei em um ponto que não dava mais pra segurar. Gritei. Berrei bem alto que era por você que eu estava apaixonado, que era sobre você que eu tanto escrevia. Mas, você mandou parar de brincadeira e falar logo quem era a pessoa que eu gostava. Cara, eu ri e naquele momento eu tive certeza que era você a pessoa certa, mesmo que seja toda errada e do avesso.
Eu te jurei com todos os dedos das mãos e dos pés que era por você. Nossa, finalmente falar aquilo me deixou leve. Muito leve. Mas a leveza foi embora quando você começou a me xingar e dizer que eu era muito idiota. Eu comecei a falar que não era minha culpa ter me apaixonado, expliquei todos os motivos e razões inexistentes do amor e você me mandou calar a boca e disse: “É você quem eu amo.” Caralho. Eu chorei. Juro. Chorei de felicidade e por não acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. A partir dali, o caos começou.
Pedro Silva