Lembro-me da chuva torrencial enquanto estávamos naquele barco minúsculo que se tornara nosso relacionamento.
Enquanto eu tentava, de todas as formas, retirar a água que fazia de tudo para nos afundar, mesmo usando minhas pequenas mãos e qualquer tipo de bota velha que surgia no mar furioso ao nosso redor, você só ficou sentado e reclamando do que acontecia conosco.
Não moveu um músculo. Apenas esbravejou: “Você precisa aceitar que estamos afundando! Acabou!”
Nesse momento, eu percebi que ele havia jogado a âncora do nosso barco. Não para tentar impedi-lo, mas para nos afundar. Ele jogou a âncora e desistiu de tudo. Ficou sentando e amaldiçoando, enquanto eu retirava a água do barco com minhas mãos e pensava em um jeito de sair dali, pois eu não era como ele. Não jogaria a toalha.
Revirando minhas coisas em busca de algo que pudesse ser a salvação, eu só conseguia manter um pensamento em mente “eu não vou deixar você me afundar, sou maior do que tudo isso”. Foi então que encontrei um conjunto de balões e comecei a enchê-los. Era a minha única esperança e eu me agarrei a ela.
Ele achou loucura e preferiu ver tudo afundar e acabar.
Depois de um certo tempo, o vento soprou ao meu favor. Mas me segurar àqueles balões estava fazendo com que minhas forças começassem a deixar meu corpo. Então fechei meus olhos e mantive minha mente nas nuvens. Tudo daria certo. Tinha que dar.
Mesmo com tudo contra mim, eu lutei. Lutei contra o tempo e contra minhas forças.
Abri meus olhos. A tempestade havia passado e a ventania havia me levado junto aos balões para terra firme, com pássaros cantando e céu azul. Estava salva!
Eu nunca havia feito um plano. Afinal, minha positividade nunca havia me deixado considerar que as coisas não dariam certo, mas não deram. E ao invés de me afundar junto com a âncora que você amarrou nos meus pés, eu consegui e eu sabia que conseguiria, mesmo sem um plano.
Sempre fui a melhor versão de mim mesma, mesmo quando as coisas não dão certo, eu sei que fiz o meu melhor. E não importa o que as possibilidades digam, a minha mente sã está sempre nas nuvens, tentando encontrar uma solução para o impossível, ao contrário de qualquer pessimismo.
Pode ser que eu venha a falhar, afinal, ninguém é perfeito. Mas saberei, com toda a certeza, que eu tentei, lutei e fiz de tudo para conseguir, pois, ao contrário dele, mesmo com a âncora tendo sido jogada e com tudo certo para dar errado, eu me recuso a afundar.
Grazielle Vieira