É mais fácil o não
a dúvida, o medo
não olhar sob o colchão
É mais fácil fugir
recusar a si mesmo
o direito de ser
É mais simples sumir
recuar, não tentar
para assim não perder
Com mil escusas, são mais mil os motivos para não confiar
Com as razões mais profundas, de todos, nós nos fazemos guardar
É mais fácil o não.
Não ao amor.
Para não ao sofrer.
Dentro de nós mesmo privamos o pouco sentir que ainda nos resta
E o salvamos pra nós
Como abrigo de uma dignidade emotiva senil
Um blasé refúgio do atroz
Que acode uma honra amorosa inútil
O fogo do amor, a sete chaves no peito mantemos
Por ingênuo receio da tempestade dos outros que chega
Como se brasa sem ar pudesse manter uma chama acesa
Somos a prisão para o nosso próprio amor
Que por intocável. Impraticável. Impossível
Que já lívido, sem sol, não se reconhece em nenhum reflexo
Eis assim o amor que não volta
Simplesmente porque não deixamos que vá
Por quantos nãos que dizemos perdemos o sim que queremos escutar?
Eden Picão