Essa cicatriz que você abriga
Que você tanto briga
É seu maior tesouro
É sua morada de ouro
É nela que você se acha e se esconde
É sempre ela que te diz aonde
Você vai estar: ontem, hoje e amanhã
Sempre, essa cicatriz talismã.
Persistente, é quem te mostra, ardente
Que corpos vivos têm marcas, aceite.
Essa cicatriz que você abriga
Que você tanto briga
é sua maior riqueza, seu amuleto certo
Não pelo que deixa longe, mas pelo que traz perto
Toda a sua história em linhas e pontos internos
Guarde-a com carinho nesse peito-esterno
ainda que marcado, sempre aberto
Pois só no que está morto não há vestígios
Vestir a vida é aceitar todos os dias os indícios
De que há beleza na não perfeição,
Há muito mais, certeza, do que não habita a visão.
Cicatrizes são marcas de quem não vive em vão
E viver é todos os dias, cicatrizar raízes, de grão em grão.
Andréa Góes