Acordo no meio da noite. Assustada. Será já a hora de acordar? Levanto, vou até a cozinha. Ainda não clareou, isso é sinal de que ainda tenho mais um tempo para dormir.Quanto?
Coração disparado. Preciso reduzir as xícaras de café. Passo a mão pelos cabelos emaranhados. Ainda ouço risadas e garrafas batendo provenientes do bar ao lado. Essas pessoas não tomam jeito? E quem sou eu para julgá-las? Há alguns anos estaria eu, ainda, lá também. Lembro: será que meu amor está a dormir?
Ah, meu amor… Sim, claro que está. Criatura mais bela que já vi a dormir nesta vida. Queria estar contigo. Os 72 minutos de hoje não foram suficientes para me satisfazer de você. Sim, conto cada segundo. E relembro todos os detalhes na sua ausência. O aroma da sua pele, as dilatações e contrações da sua pupila, os gestos, cafunés, risos e manhas. O único na Terra a me amaciar com manhas.
Acho incrível essa intensidade que o amor tem. Eu o comparo ao ar que respiro. Essencial, sempre presente, oxigenando minhas células, afastando possibilidades tóxicas, me dando energia e vitalidade. Intenso e fatal, não no aspecto mortal, digo no aspecto fatídico, porque o amor… o amor, de verdade, é presente como o ar. Leve, fresco ou quente, sempre bom, sempre ali, disponível, basta respirar.
E de repente, me percebo aqui, apoiada na varanda, olhando a vida boêmia, lá em baixo, se movimentando no mudo. Meu pensamento reluzente de amor é impenetrável de tão agradável. Ainda no mudo do meu fantástico mundo, desejo à todas as criaturas que se encontrem, também, no amor. Porque o mundo está precisando disso: amor, pessoas que amam, pessoas amadas, decisões tomadas com amor no coração, amor nas intenções, amor nas ações.
Mallu Navarro