A aceitação do fim dos ciclos é sempre um capítulo doloroso.
Não fomos preparados para as perdas. Não fomos treinados para o adeus repentino.
Somos péssimos perdedores. Quando o assunto é o fim do amor, somos incorrigíveis. Nos transformamos em meninos birrentos, profissionais do remendo. Queremos a todo custo colar os fragmentos da história falida. Rebobinar a fita e corrigir os erros.
Acreditamos que somos capazes de lidar com qualquer contratempo, desde que tenhamos como provar que toda dificuldade amorosa é apenas um desafio, um teste para aguçar a nossa capacidade argumentativa. Só questão de usar a recordação certa para convencer o outro a mudar de opinião.
Compreendemos que basta um pouco mais de jeito para lidar com os medos e bagagens sentimentais do outro. Só uma questão de mudar o método de tratamento, até que se sinta em casa novamente dentro de nossas vidas.
Sempre arrumamos um jeito de convencer o outro de que a decisão de ir embora é equivocada. Abrimos os arquivos felizes de outrora e com as provas na mão, o informamos que não poderá partir porque já foi feliz ali, portanto tem um compromisso sério, como se o fato de não amar mais não fosse suficiente.
Jogamos a culpa no outro e o acusamos de desistir do amor cedo demais enquanto desistimos de nós mesmos implorando para que ele permaneça.
As pessoas têm o direito de ir embora. Às vezes, chegam e não ficam. Dormem na varanda das nossas ilusões e se despedem. Não há nada de errado em não permanecer. Errado é cobiçar a estima de quem não nos ama. Insistir em quem não nos quer por perto. É um desejo oco porque os sentimentos trafegam em via única. Não há fluxo. Não há troca. Não há reciprocidade.
Todas as pessoas mudam e consequentemente os sentimentos vão se adequando a essa nova ótica, a esses novos modos de ordenar a realidade. Deixar para trás é amadurecer. O amor ou qualquer outro sentimento de afeição não pode ser exigido para suprir desmedidas carências. O que falta no lugar de tanta cobrança, é nos ocuparmos com o que somos e aceitarmos que as faltas mais agudas que temos não são responsabilidade de ninguém. Precisamos delas para compreendermos o nosso complexo funcionamento. Quando insistimos que o outro fique e nos ame de acordo com o nosso manual, deixamos claro que não estamos interessados em partilha, mas em posse.
Só pode haver recomeço quando compreendemos que é natural que não nos amem pelo que somos e deixem de nos amar pelas incompatibilidades que surgirem depois. Não há nada de errado nisso. Quando iniciamos um relacionamento, costumamos agir como quem hasteia uma bandeira permanente num terreno já conquistado e esquecemos que não temos controle sobre o sentimento alheio.
Não há muito o que fazer além de aceitar que o relacionamento acabou. Que a estrada será diferente para cada um e as interseções serão apenas um ornamento da memória. Se não tivermos a plena convicção de que a companhia do outro deve ser livre e espontânea, estaremos sempre acuados pelo medo dos términos. E isso, se deve à nossa própria habilidade de criar obstáculos, porque amarramos as expectativas no que é mutável, e o recomeço só está disponível depois que o kit da maturidade já entrou em vigência.
Ester Chaves
Autor da frase-título: *Felipe Arco