Eu nasci com a alma inquieta.
Grande parte dos meus pensamentos escapam do meu controle, por mais simples que seja a situação e mesmo que ela esteja aparentemente sob meu domínio. Mas sempre vai existir aquele fio de possibilidade capaz de fazer a mente reverberar sobre coisas que nem aconteceram e que talvez jamais aconteçam. Uma angústia constante.
Sofro por antecipação. Aos mãos suam e o peito acelera em um compasso de perfeita harmonia. Quando a noite vem, o sono faz questão de ir embora se o assunto for esperar aquela ligação, aquele compromisso do dia seguinte ou quem sabe até, preferencialmente, quando o assunto é confabular planos e sonhos que tendem a morar no meu íntimo e irão ainda custar muito para materializar-se.
Vivo em sintonia com a ansiedade. A boca costuma secar só de imaginar que precisarei ir adiante com coisas importantes. O desespero de que algo dê errado é assustador. E aí surgem os conflitos perturbadores na mente. A única vontade que surge é adiar tudo e sair correndo sem nem olhar para trás.
A gente padece ao medo, à sensação de impotência por fragilizar-se diante do incerto. Tudo se torna cinza e confuso. Vias de mão dupla, tripla, sêxtupla… e essa euforia incontrolável reflete em diversos aspectos de nossas vidas. Me sinto refém.
Ficamos, estamos, sempre fomos ou nos tornamos fracos? Na verdade, acredito que a ansiedade é um processo que vai nos amolecendo pouco a pouco. Quanto mais responsabilidades aparecem, mais sufocados ficamos nessa impenetrável coleira de angústia. A pior parte é perceber que até coisas banais nos fazem perder o chão, o rumo.
E é aí quando chega o momento de procurar refúgio, saída. É preciso fugir desse labirinto de dúvidas e expectativas que nos aprisionam a certezas infundadas. Muito embora que não exista uma única receita infalível na qual qualquer pessoa siga à risca e tenha êxito para libertar-se desse mal. Mas, cada um de nós, incontestavelmente, carrega algo dentro de si que, quando acionado, emana tranquilidade.
Que seja uma pessoa, uma música, um livro, um abraço, um incenso, um filme, um cafuné, uma atividade, um lugar, uma oração, não importa o quê… sempre vai existir um caminho certo que é capaz de conseguir fazer o coração desacelerar, de desafogar a mente e de aquietar a alma enquanto nos distrai e espanta para longe a indesejada ansiedade. E é esse caminho que devemos chamar de lar.
Pois o verdadeiro lar é onde sua ansiedade adormece. Onde as coisas se acalmam e você sente o cheiro da paz. E sua mente, extremamente exausta, enfim descansa do tormento das mais intensas guerras traiçoeiras travadas diante de seus olhos.
Não é fácil manter o autocontrole, como também não é impossível. É necessário que a gente exercite dia após dia a arte de entender que a vida muitas vezes não é esse monstro que antecipadamente criamos na cabeça. Já temos problemas reais demais para nos preocupar. E a partir do momento que a gente põe os pés no chão e decide focar na capacidade que temos e no desejo de realizar os planos, ansiedade nenhuma irá conseguir estragar teu sossego emocional.
Jey Leonardo