No meio da noite
Mergulhada em negro poço
A insônia me possui
Se apossa de tudo o que me aflige
E eu já não posso com o medo,
A insegurança me dirige
Exige que eu seja tudo aquilo que não fui
Corrige meus futuros atos
Inflige punição aos passos falsos
Aponta erros de percurso no asfalto interno- que queima
No asfalto inferno, que lembra
Tudo o que a luz do dia esconde
Mesmo com os faróis acesos e a cabeça alerta.
No breu do céu
Divagando entre sonhos e pesadelos
A insônia é aquela mão amiga que estapeia com uma verdade lenta
Machuca, apavora a consciência
Não há nada que a ciência ou a razão Possam fazer por mim agora
Sou apenas eu e ela, retalhadas na memória
Em metáforas que só farão sentido ao amanhecer
Sono e vida entrecortadas,
Que se aconchegam e se despedem sem eu querer.
Pela manhã,
A extensão da mancha que ela deixou encobre
Não importa o que a vida cobre
Sou carcaça humana
Sou carcaça urbana
Vestindo meia essência
Calçando meio caminho
Vagando sonâmbula entre minhas avenidas.
Ao longo do dia,
Presa em ferida aberta
Me pego assim, já sem força
Na forca do cansaço
Desejando o aconchego de um abraço
Da escuridão
Da paz de quem não tem na mente o coração.
Quando a vida mais chama
Minha chama já se apagou
A insônia traz o pensar em tudo,
A insônia traz o pulsar em nada,
E nada em falso,
Em quem ainda não despertou.
Andréa Góes