Andréa Góes

Incontinência

Na minha gigante impermanência
Não sei me conter
Sou intensa demais para reter a vazão
Contente demais para me render a razão
Ao controle frouxo do que deixa tudo escapar,
Não sei medir, não sei cessar
Sou continente alagado,
Náufrago perdido em conteúdo próprio,
Submerso em líquido inflamável

Na minha gigante impermanência
Sou invadida pelas ondas do mar da arrogância
A abundância da água é letal
Tal qual encharca meu barco com a furada da honestidade em demasia,
Hipocrisia
Que empossa as palavras com as verdades mais fluidas,
Sem que eu possa secá-las ou excluí-las
Afogo-me nas poças de franqueza
Fraqueza do esfincter mental: não guarda o que pensa,
Pensa, em modo automático de verborragia oral

Na minha gigante impermanência
A incontinência da alma
Ao mesmo tempo constante e perdida
Escorre, sem aviso prévio ou data de partida
O consenso é claro: é preciso apertar, aparar as arestas, se fechar
O conserto é claro: não é preciso, isso de se domar.

Andréa Góes