Durante muito tempo, duvidei da minha força. Acreditei que seria muito difícil alterar os planos, as rotas e decidir o melhor caminho sem você.
Até então, as suas decisões é que eram válidas. Eu apenas concordava, embora soubesse que estava deixando a minha felicidade em suas mãos.
Todas as vezes que parti, você usou as palavras certas para me resgatar. Não era sobre voltar por amor, tinha mais a ver com posse do que qualquer outra coisa.
Eu queria tanto estar ao seu lado… não percebia que só ocupava lugar ao suprir uma necessidade momentânea, que era só sua.
Quando permitimos que o outro, por diversas vezes, repita a dose e faça exatamente o mal que já nos fez antes, assumimos a nossa parcela de culpa. O aconchego de uma noite não cura palavras mal ditas. O calor do sexo não lava mágoas. A cama compartilhada deixa de ser comunhão. Torna-se ato comum. Apenas trocas instantâneas de fluidos enquanto as almas se estranham.
Duas pessoas que desabam após exaurir os anseios dos corpos. Apenas mais uma noite ao lado, depois de passear por dentro, sem tocar além das margens da pele, para finalmente, dar às costas, fechar a porta e sair, perder-se na fria distância.
Procurei explicações para saber o porquê de voltar a remexer na mesma dor e cheguei à conclusão mais óbvia e dolorida. Eu nunca deixei cicatrizar. Nunca tive paciência para sofrer e esperar doer até acabar. Sempre tentei curar a dor com o veneno de quem a causou. Imaginei que estando perto, conseguiria controlar o sentimento e fazer com que notasse a plenitude do meu amor. Engano.
Foi duro amadurecer a ideia de viver longe de você, porém foi a coisa mais sensata que já fiz. A prova de honestidade e amor que eu me devia. Percebi que durante anos, deixei de me olhar porque só conseguia fazer isso através do seu espelho, programado para acentuar os meus defeitos. Hoje eu olho para trás e, em algum retrovisor do passado, a sua imagem aparece como um vulto que não assusta, não atrai nem comove mais.
Ester Chaves