Depois de uns cálculos rabiscados em um papel de mesa de bar, acompanhados de uma dose de lágrimas e seis garrafas de cerveja, ela percebeu que a conta não estava batendo.
Seu investimento estava rendendo, sim, mas o lucro estava sendo sugado pelo lado errado. Foi aí que deu um lance na concorrência e acertou na mosca. Metáforas à parte, racionalizar o romance solucionou o problema e evidenciou a fórmula da felicidade.
Como quem tropeça, por distração, e dá de cara em uma nota de cem em uma viela qualquer. Como quem pula do púlpito da proa, de uma altura considerável, e mergulha de cabeça em um mar refrescante e cristalino. Ela caiu na vida.
Aquela calmaria e autocontrole ficaram para trás, ela adotou para si os pecados capitais. E quem disser que isso é um erro, questionará seus próprios princípios ao vê-la radiante e conquistando seus objetivos.
As amarras que a detinham não fazem mais sentido para ela, abandonou aquela biblioteca encantada que regia seu coração e assumiu a cigana amazona que há tempos reprimia.
Agora, ela viaja, passeia, caminha, corre pelos campos, praias, cidades, países e devaneios. Agora, ela dança, pula, bebe, se diverte em qualquer ambiente. Agora, ela manda e desmanda a quem quer que obedeça. Agora, ela é ela e cada vez mais dela e não de qualquer um que chegue.
Ela caiu na vida, de braços e peito abertos. Ela quer mais é colecionar histórias, interagir com o mundo, conhecer culturas e personalidades. Ela está a distribuir gentilezas, como nunca, e patadas, como sempre. A diferença é que, hoje, quem decide isso é a alma dela e não as ocasiões. Uma rebelião contra os conceitos alheios, afinal, as pessoas sempre vão pensar o que quiserem.
Com muita graça e pouca sutileza, com muito charme e pouca ingenuidade, com muita inteligência e o dobro de sagacidade, lá vai ela, regendo o baile.
Mas, no fundo, isso tudo nem é tão surpreendente, ela só externou o que dentro, desde sempre, já era evidente.
Mallu Navarro