Alguns chegaram a achar que ela havia enlouquecido. A verdade é que ninguém entendia as razões para que ela estivesse tão diferente em um espaço tão curto de tempo. Talvez cansaço, esgotamento, maturidade ou qualquer definição que seja. O que todos concordavam já era claro: ela mudou.
Aquela fragilidade que, por diversas vezes, atribuía a ela uma impressão de garota indefesa, agora dava lugar a um silêncio imperativo e resiliente. Uma espécie de força que ninguém imaginava que ela pudesse ter. Mas o que ela queria que todos compreendessem era bem simples: não foram mudanças, foi aprendizado.
Depois de ter sido meticulosamente dilacerada por dentro, após sentir seu coração ser arrancado para fora do peito sem nenhuma piedade e depois de, mesmo sangrando e com dores, ter sido obrigada a caminhar sobre os cacos que feriram e despedaçaram sua alma, ela aprendeu, finalmente, que não poderia permanecer onde não recebesse menos do que merecia.
E aos poucos ela foi abrindo mão da dor, da mágoa, do sofrimento, da angústia, do sentimento que só ela sentia. Ela entendeu que, quando não é ofertado de volta sequer o mínimo daquilo que ela oferece ao outro, então a vida já deu a resposta. E isso vai além de reciprocidade, pois ela descobriu que não pode ofertar amor e receber somente carinho, que não pode oferecer amor e receber apenas um pouco de atenção. O amor que ela oferta é grande demais para se sustentar com migalhas.
Ela se reestruturou por dentro e por inteiro. Ela se blindou do amor mais precioso que existe: o próprio. Não que isso indique que agora ela não sinta mais a necessidade de se entregar para outra pessoa. Não é nada disso. Reconstruída, hoje ela entende que, em sua vida, não há mais espaços para coisas, pessoas ou sentimentos superficiais.
Ela deu um basta em tudo que já se inicia com o prazo de validade aparente. Agora, ela só se interessa por sentimentos verdadeiramente recíprocos, por pessoas intensas, por amores reais.
Jey Leonardo