Nem sempre o amor será generoso. Muitas vezes, até que a gente se encontre, ele irá nos tirar a tranquilidade. É quando já estamos acostumados com a arrumação das coisas e, de repente, somos obrigados a ver o ambiente mudar sem a gente. É quando o amor fica impregnado nas nossas lembranças. E só. Porque o que era nosso e o que tínhamos como nosso, não existe mais.
Nesse momento, precisamos restabelecer a nossa conexão com a fé. Estruturar a nossa alma. Realinhar os nossos sonhos e refazer os nossos planos. Dói. No início dói ao ponto de sentirmos faltar o ar em nossos pulmões, mas é só saudade.
Então, tenta-se mudar a rotina. O cabelo. O perfume. Adoecemos por dentro e não existe remédio que nos cure da vontade de colocar tudo em um lugar que não pertence mais ao outro.
Passamos noites em claro. Desejamos que o outro apareça de repente, de qualquer jeito, forma e sentimento, para nos colocar em paz novamente. Temos a falsa impressão que o amor do outro não importa. O nosso, já vale. Seria suficiente. Basta estarmos juntos. Colocamos os nossos pés na lama do fundo do poço enquanto nos inundamos na água da esperança.
E os dias passam. Dói tanto, todo dia e toda hora, que esquecemos que dói e vamos vivendo. As lágrimas vão cessando. As lembranças diminuindo. Nossa rotina agora pertence a outros momentos. Nos ousamos até a sair de casa, festejar algo com uns amigos.
A ventania vai acalmando. O coração vai acalmando.
Conhecemos outros abraços. Sentimos outros beijos. Vivenciamos outras sensações. Voltamos a fazer sexo sem amor e descobrimos que isso também é bom. Viajamos em histórias loucas e já conseguimos sorrir mais do que lembrar.
Nessa hora, o retrovisor já está coberto pela luz que brilha nos nossos olhos.
Nosso pulmão, que antes procurava o ar, agora causa furacões quando suspiramos na vida de tanta gente boa que nos ajuda a atravessar a ponte. Que nos ajuda a levantar.
Não somos mais os mesmos depois de uma dor tão forte quanto à dor de um amor que vai embora sem se retirar de dentro da gente. Mas, todo mundo sobrevive. Ao passarmos por dezenas de pessoas em uma calçada de um grande centro, durante o horário de maior movimento, estaremos passando por dezenas de amores dilacerados.
Gente que continua caminhado em direção ao trabalho, em direção à sua casa, em direção a algum lugar e leva junto as suas dores. As suas marcas.
Pessoas que tentam sobreviver as suas dores. Ou que já são sobreviventes. Porque vivemos em constante superação. Porque somos natureza de Deus ao natural. Como as folhas de uma árvore, nos adaptamos a intensidade das estações.
E sempre voltaremos a florir na primavera. Ainda mais fortes do que antes.
Edgard Abbehusen