Ele queria abraçá-la. Mas, os abraços que saiam dele e nem a tocava, eram fortes o suficiente para deixá-la sem respirar. Seus beijos não molhavam mais aqueles lábios. Eles eram afogados por ideias que a jogavam contra a parede.
Acuada, ela ouvia que ele a amava, muito. E até amava, mesmo. Amava toda hora, que vivia a imagem dela o tempo todo. Sentia o seu cheiro, até no cheiro do café. O chá, pra acalmar, refletia o rosto dela, que sorria. E ele só queria entender o motivo dela estar sorrindo, sozinha.
Em alguns momentos, ele desejou redesenhar toda a história dela. Apagar o passado e todas as bocas que a beijaram. Sem saber que ela, junto com toda aquela bagagem, estava ali justamente por isso.
O seu amor não se satisfazia com o cinema, a cama e a paz. Ele queria ela, entrar e morar ali. Ouvir os pensamentos dela. Sentir o desejo dela.
Estar com ela, não o tornava mais feliz. Ela já não estava há tempos.
Aliais, fazia tempo que não sorriam juntos. Diversão era o alivio da despedida.
Ele perdeu a mão. Amou muito. Desejava olhar no fundo dos olhos dela e dizer algo bom. Várias vezes, achava ela linda. Mas, antes de dizer isso pra ela, pensava que muitos achariam, também.
Perdeu-se de si. Do amor. E dela.
Amou demais. Tanto, que já nem era mais amor. Talvez, tenha sido uma dia. E virou esse transbordar que termina em transtorno.
Mas, não amor. Amar nunca foi isso.
Edgard Abbehusen