Mãe sabe quando o filho não está bem. Mãe tem faro apurado e remédio certeiro para qualquer mal. Não adianta esconder o choro pesado atrás das pálpebras.
Não adianta deitar cedo para fingir que não passou a tarde chorando. Não adianta lavar a tristeza a seco e exibir o sorriso forjado no café da manhã.
Não adianta dizer que está tudo bem se realmente não estiver.
Não importa qual é o problema, ela sabe. O magnetismo dela com a alma do filho nunca se rompe. Mãe tem um jeito especial de sentir as coisas. Possui detector de carga vibracional.
É uma vidente em pleno exercício de amorosidade. Uma sensitiva que vive de peito colado ao coração do ser que gerou. Um anjo da guarda que às vezes sofre de insônia proposital para proteger a prole.
Preocupação de mãe nunca deve ser ignorada. Começa com um atordoamento, uma agonia no peito, um desespero, uma vontade de abraçar o filho. De escutar a voz. De juntar um punhado de frases do próprio repertório e embalar, dar colo e dizer: “Eu estou aqui, meu filho. Não se preocupe”.
Enquanto o filho não chega, ela passa o café. Faz inúmeras ligações. Envia mensagens. Aguarda retorno. Anda esfregando as mãos pelos cômodos da casa. Faz prece. Multiplica as atividades para não dar a entender que está sofrendo. Atende o telefone, agora mais aliviada. Bate a massa do bolo, mas o pensamento ferve. Ela não se distrai. A memória é uma ficha que gira rápido e cai direto na infância dele. Recupera a imagem da criança agitada e risonha correndo no quintal. Sorri ao contemplar no álbum antigo, o menino cheio de travessuras que adorava colorir as paredes da sala. O menino-artista que pintou o cachorro da família.
Preocupação de mãe pode ser a coisa mais séria do mundo, mas às vezes é só a fúria da saudade. Não importa o quanto ele tenha crescido, mãe quer o filho por perto. Mãe quer ter certeza que o sorriso é genuíno. Que a voz rouca é só uma gripe boba. Que o choro é passageiro. Que a cabeça baixa é puro cansaço.
O pensamento que une a mãe ao filho é um mantra que só eles sabem. É uma mensagem afetuosa que amolece qualquer silêncio. Uma partitura etérea. Um pacto de amor eterno firmado na maternidade.
Mãe pega no ar, a tristeza do filho. Fisga nos olhos qualquer poeira de avaria emocional. Às vezes, silencia. Depois de observar que não é febre, que não é gripe ou qualquer outra doença com sintomas visíveis, se põe a cantarolar.
Acolhe o filho entre os braços e dissipa as dores pelo canto. Põe fita colorida nos sonhos opacos. Revitaliza a esperança. Adorna a face com beijos calorosos. Diz palavras carinhosas. Os desânimos e as tristezas logo se despedem, após o toque manso que faz redemoinho no cabelo.
Mãe possui um estoque de métodos infalíveis para despertar o que há de melhor nos filhos. Mãe tem mania de alegria. Urgência de sorrisos. Um jeito peculiar de expandir a rotineira graça. Mãe é mãe mesmo antes de nascer. O tempo tem notícia dela quando ainda era absoluta pluma e mistério. Mãe é o sopro originário, o milagre vital, é a própria continuidade de Deus.
Ester Chaves