Às vezes, estamos exaustos e aceitamos convites para sair e alegrar alguém com a nossa presença, mas só o corpo vai, os pensamentos ficam rondando a cama, o banho, o descanso, as contas etc. Nos sentimos impelidos a oferecer o que não temos naquele momento, a ressuscitar a simpatia entre as olheiras e o cansaço.
É chato estar num lugar onde o coração não acha repouso. Ter consideração é estar presente por inteiro. A gente precisa ser um pouco mais atencioso com as próprias urgências para depois ser a companhia ideal para alguém. Marcar presença apenas para cumprir tabela numa reunião com amigos que mereciam bem mais que uma cara amarrotada pelo sono é algo inconveniente. Sejamos sinceros. O “hoje não dá”, o “eu não vou porque estou cansado” são explicações mais honestas e aceitáveis do que a cara de paisagem que a gente costuma ostentar quando permanece num lugar sem a mínima vontade.
A gente cansa, esmorece com tantas obrigações. É absolutamente normal sentir aquela pontinha de tristeza no final do dia e receber a visita do desânimo. Sair e frequentar lugares, levantar taças e mais taças nem sempre é sinal de contentamento. Quando estamos entediados, costumamos sair para espairecer. Nem que seja por algumas horas, despejamos as mágoas nos copos e, em certas ocasiões, voltamos mais vazios, com aquela sensação de que o conforto dos lençóis era a melhor opção.
A necessidade de socializar para provar que está feliz, fervendo no meio do burburinho, como se a vida social fosse uma vitrine, um eterno carnaval, onde é possível diluir as tragédias pessoais em alguns instantes, é mais uma prova do quanto andamos vazios. Mais importante do que isso é o que se vive longe do binóculo social, da sensação de apadrinhamento popular — comunhão às vezes forjada para alcançar reconhecimento.
Aprenda a dizer não sem ter que se preocupar em dar explicações ou sentir culpa por isso. Nem sempre nos sentimos à vontade para conversar, expor a vida, os sentimentos numa roda de amigos. A vida é o que acontece longe dos holofotes, o que ninguém vê. As poucas horas de descanso que temos é o recreio onde levamos a alma para passear e não dá para desperdiçá-lo com saídas obrigatórias. Às vezes, tudo que a gente quer é abraçar a quietude, o silêncio e o aconchego do próprio lar. Nem tudo está lá fora, no meio do riso escancarado e da bebida farta. Só é possível alcançar o mistério que revela a profundidade que há em nós mesmos quando nos permitimos sentir a paz da própria companhia.
Ester Chaves