Andréa Góes

Resiliência

Em minha residência interna
Habita a não resistência externa
Sou a favor do que a vida traz
Enfrento seu olhar atroz
De quem espera de mim uma lágrima, um grito, uma ruptura
Mas não captura que em meu âmago
A mágoa ocupa lugar de motriz amarga
Que funciona à medida que o motor alarga
E me faz sempre ser mais forte, ser maior
Da minha matéria prima extrai o suor
Com que me construo diariamente.

Em minha residência interna
Habita a não resistência externa
Aceito o que a vida impõe
Posto que a força é a flexibilidade que se dispõe
Disposta a envergar, sem se romper
Arrombo o meu limite,
Aumento a amplitude, que feroz assiste
Até onde vou, sem me perder.
Com a firmeza de quem não se abate
Mas bate, nocaute a nocaute
Naquela rigidez constante
Até ela entender que só se adaptando, avante
Há vantagem o bastante
Nessa loucura que é viver.

Em minha residência interna
Habita a não resistência externa
Enfrento o obstáculo
Obstinada, não fujo do controverso
Contra o avesso, eu não me despeço
Aprendo até a sentir apreço
Por tudo aquilo que me engasga a fala
Por tudo o que me rasga ou cala
Na certeza de que a fuga não é escolha
Na escala da vida,
A dor da lição é a escola
E nessa aula eu estou sempre presente.

Em minha residência interna
Habita a não resistência externa
Respondo ao conflito,
Não deixo o afeto comprometer o aviso, o avanço
Ainda que a exigência seja pressão ou plano
É nela que surge meu melhor ângulo
Engulo a seco e descubro que é na seca
Que brota o meu rio,
E transborda em anos de experiência os danos
Combatendo os antigos planos
Plena de que o que entra pela porta
Me transforma na proa do barco
Que abarca cada um dos meus passos
E me leva,
Até a eternidade.

Andréa Goes